Você deve ter achado
o título dessa notícia um tanto estranho, afinal, o termo plágio se aplica
quando um autor se apropria indevidamente da obra de outro, apresentando a obra
copiada como se fosse uma obra própria, e não a eventos históricos. E é
verdade: se falássemos sobre o ato de Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga,
seria realmente estranho; mas, aqui, estamos falando do quadro Grito do
Ipiranga, nome pelo qual ficou conhecido o quadro Independência ou Morte, obra
do pintor Pedro Américo que deixou a mais importante representação sobre esse
ato tão importante para nossa história. Mas, você sabia que essa obra é acusada
de ser um plágio? É isso mesmo. Além disso, o quadro de Pedro Américo contém
uma série de mitos que são contestados pelos historiadores, e é isso o que você
vai conhecer agora.
Pedro Américo, o
pintor do quadro Grito do Ipiranga
Pedro Américo foi um
pintor brasileiro que viveu entre os anos de 1843 e 1905 e ficou conhecido por
suas obras históricas, nas quais retratou grandes feitos da história do Brasil,
como Tiradentes Esquartejado, sobre a Inconfidência Mineira, ou Batalha de
Avaí, que ocorreu na Guerra do Paraguai, além de muitas outras obras.
Pedro Américo pintou
o quadro Grito do Ipiranga em 1888, portanto, 66 anos depois do evento
histórico, sob encomenda do Governo Imperial Brasileiro, que estava investindo
na construção do Museu do Ipiranga, hoje chamado de Museu Paulista. O pintor
não foi uma testemunha ocular do fato e sua obra apresenta uma série de
divergências com a versão dos historiadores sobre o episódio. Como, por
exemplo, o fato de Dom Pedro I e toda sua comitiva estarem montados em belos
cavalos - isso seria muito difícil, uma vez que todos estavam vindo de Santos,
e, para chegar até São Paulo, tinham que atravessar a Serra do Mar. Como tal
subida era muito difícil, em geral, utilizavam-se das mulas e dos burros, animais
mais fortes e resistentes a esse tipo de atividade que os cavalos; por isso, é
bem provável que Dom Pedro I estivesse montado em uma mula muito menos vistosa
e imponente que o cavalo marrom do quadro de Pedro Américo.
Quadro Independência
ou Morte, também conhecido como O Grito do Ipiranga, de Pedro Américo
Além disso, a
travessia da Serra do Mar era algo muito penoso, e é difícil que tanto o
Imperador quanto os seus soldados estivessem usando roupas de gala, como as
retratadas pelo nosso pintor. Muito provavelmente, todos estavam usando trajes
simples, sujos e surrados pela longa jornada. Uma cena um tanto mais deprimente
e menos inspiradora que a que Pedro Américo retratou. Além disso, conta-se que
nosso Imperador estava com uma forte diarreia nesse dia, e, por isso, é
provável que ele não estivesse tão disposto como no retrato.
Quadro 1807,
Friedland, de Ernest Meissounier
Também há
divergências sobre o número de pessoas que acompanharam o evento, que seria
muito menor que o mostrado no quadro de Pedro Américo, ou ainda, sobre a
presença da casa de pau a pique estampada no fundo da tela, uma vez que os
historiadores alegam que o registro mais antigo dela data de 1884. Se não
bastassem essas divergências históricas, Pedro Américo ainda foi acusado de ter
plagiado a ideia para esse quadro de um outro, chamado 1807, Friedland, de
Ernest Meissounier, que retrata a vitória de Napoleão Bonaparte na batalha de
mesmo nome.
Pedro Américo se
defendeu de seus críticos que o acusavam de falsear os eventos, afirmando que
"a realidade inspira, e não escraviza o pintor". Sobre a questão do
plágio, nunca saberemos se Pedro Américo realmente se inspirou na pintura de
Meissounier, ou se foi uma coincidência. Mas, os dois quadros estão aí - por
que você não os analisa e tira suas próprias conclusões?
Fonte: http://clickeaprenda.uol.com.br/portal/mostrarConteudo.php?idPagina=22452